Bombardeios começaram quando ocorria banquete e brinde de líder norte-americano e Dilma no Itamaraty
Início do conflito fez diplomacia brasileira temer o cancelamento das agendas da comitiva americana no Brasil
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
FERNANDO RODRIGUES
NATUZA NERY
DE BRASÍLIA
O ataque à Líbia roubou a
cena na primeira visita ao
Brasil do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama,
com um detalhe que deixou
as autoridades brasileiras desoladas: os bombardeios começaram na hora
do banquete e dos brindes dele e de Dilma Rousseff no Itamaraty.
Obama fez um discurso
muito rápido, ofereceu o tradicional brinde e acabava de
sentar à mesa, às 14h30,
quando Thomas Donilon,
conselheiro de Segurança
Nacional da Casa Branca,
aproximou-se e cochichou
algo ao seu ouvido: a guerra
havia começado.
Simultaneamente, o chefe
da assessoria de imprensa do
Itamaraty, ministro Tovar
Nunes, recebeu a informação
pelo celular de um assessor e
entrou quase correndo no salão para comunicar ao chefe,
o chanceler Antonio Patriota.
Patriota deu a volta na mesa e avisou a presidente. Obama, Dilma, o
chanceler brasileiro e o conselheiro americano falaram então, ali mesmo,
sobre a guerra.
Líbia foi o assunto do banquete e permeou todo o dia
em Brasília. Ocorreu o que o
Planalto e a diplomacia brasileira temiam: que o conflito
ofuscasse a visita de Obama
no noticiário internacional.
ATRASO
Desde a véspera, a equipe
de Dilma monitorava os passos de Obama, temendo que
ele pudesse cancelar a vinda
de última hora. A primeira
providência da presidente,
ontem, foi perguntar a assessores se os ataques haviam
começado.
Obama manteve a viagem,
mas o episódio atrasou a chegada dele ao Planalto. Antes
de subir a rampa, ele participou de uma teleconferência
para discutir o ataque.
Os dois presidentes se reuniam quando um assessor de
Obama lhe entregou um bilhete. Após ler a mensagem,
o presidente disse a Dilma
que acabara de dar autorização ao bombardeio.
A cúpula de países ocidentais e árabes em Paris decidia
então pelo ataque.
No Itamaraty, em seguida,
o foco de Obama também foi
a Líbia, tanto que ele determinou que o conselheiro Donilon trocasse sua cadeira na
mesa principal por outra
mais discreta, de onde pudesse acompanhar a situação minuto a minuto. Em seu
lugar, sentou-se seu chefe de
gabinete, William Daley.
A Casa Branca também
cancelou a coletiva de imprensa do vice-conselheiro
de segurança nacional, Mike
Froman, sobre os acordos
econômicos feitos ontem.
Em vez de uma entrevista
coletiva, como se esperava, o
presidente norte-americano
preferiu uma conversa com
um grupo de jornalistas estrangeiros.
Na declaração ao lado de
Dilma no Planalto, com a decisão sobre o ataque tomada,
mas antes do início dos bombardeios, ele disse que "houve um consenso muito forte
[a favor da resolução da ONU
que permitiu o ataque]".
Naquele momento, o que
menos interessava era a visita ao Brasil e os acordos selados e já se falava até em cancelamento do resto da viagem no país.
Colaborou PATRÍCIA CAMPOS MELLO ,
enviada especial a Brasília