Pesquisa Datafollha encomendada por ONG’s ambientalistas mostra que maioria dos eleitores não concorda com a maneira pela qual deputados alteraram Código Florestal.
Pesquisa de opinião não dá uma medida precisa. Depende do formato da
pergunta. Opiniões podem variar significativamente, quando a formulação
das questões muda. É preciso cuidado na formulação, de modo a não
induzir respostas. As perguntas publicadas no relatório, são objetivas e
sempre incluem uma alternativa que permite ao entrevistado concordar
com as teses dos ruralistas. Ela afere um sentimento geral. Não tenta,
como alguns críticos disseram, conduzir a opinião pública. Seria
possível imaginar perguntas mais pertinentes, por exemplo, a uma
sondagem acadêmica de atitudes. Daria mais precisão. Mas, como sondagem
de opinião pública, nada há nessa pesquisa que vicie seus resultados.
Esses resultados mostram que a população está relativamente informada
sobre a votação: 62% tomaram conhecimento dela e 47% se julgam “mais ou
menos” ou “bem” informados.
A maioria esmagadora, 85%, concorda com a tese de que é preciso dar
prioridade à proteção das florestas e rios, mesmo que, em alguns casos,
isso prejudique a produção agropecuária. Só 10% concordam com o
contrário: dar prioridade à produção agropecuária mesmo que, em alguns
casos, isso prejudique florestas e rios.
O mais interessante é que não há diferença significativa nas
respostas das pessoas do Norte-Centro Oeste e do Sul, as duas regiões
com políticos mais mobilizados para mudar o
Código Florestal, e as pessoas do Sudeste e Nordeste. Os percentuais são praticamente os mesmos em todas as regiões.
Perguntados especificamente sobre anistia – perdão a quem desmatou – o
perfil das respostas é bastante interessante: 48% são contra qualquer
perdão, para que a punição sirva de lição para as gerações futuras; 45%
concordam com a anistia, desde que quem desmatou concorde em repor a
vegetação. Apenas 5% defendem a anistia geral e irrestrita. Com relação
às multas pendentes, cuja cobrança foi adiada até dezembro pela
presidente Dilma Rousseff e eram a principal razão da pressa dos
ruralistas em aprovar as mudanças, 79% são contra perdoá-las e 19% são a
favor. Maioria importante, de 77%, é contra isentar proprietários da
recuperação das florestas que foram desmatadas ilegalmente.
Outro tema importante é o da permanência de atividades agropecuárias
em áreas de risco, como encostas íngremes: 66% são favoráveis à
permanência apenas daquelas atividades que “segurem o solo e não
representem risco de acidente”; 25% acham que toda atividade deve ser
removida dessas áreas. Só 7% apóiam a permanência incondicional.
Perguntadas sobre o que pensam do alerta da presidente Dilma Rousseff
de que vetará a anistia aos desmatadores, 79% apóiam esse veto da
presidente.
Como explicar a atitude de parlamentares que justificaram seu voto
nas mudanças do Código e na emenda do PMDB, que prevê a anistia aos
desmatadores, dizendo que estavam atendendo a uma demanda de suas bases?
Como mais de 300 deputados votaram a favor, certamente não podem
todos eles ter sido eleitos pelos perto de 10% da opinião pública que
apóiam as mudanças no Código. A maioria dos eleitores da maior parte
desses deputados provavelmente responderia a essa pesquisa da mesma
forma que os entrevistados responderam. Talvez os parlamentares não
estivessem pensando realmente nas suas bases, ou seja, na maioria dos
eleitores que neles votaram. Estariam pensando mais no financiamento de
campanha e nos grupos mais organizados com os quais se relacionam em
seus territórios eleitorais. Com relação aos eleitores, a aposta que até
2014, na próxima eleição, se esqueçam do que eles fizeram,
principalmente no início do mandato.
Mesmo admitindo que pesquisa de opinião é imprecisa, que mudando a
pergunta a resposta pode mudar, ela revela maior sensibilidade com a
conservação de florestas e mananciais por parte dos eleitores, do que
por parte dos deputados. As perguntas são suficientemente objetivas e
formuladas com opções que permite aferir o sentimento geral da
população. Há sempre alternativas para que o entrevistado adote a
posição dos ruralistas e elas não estão redigidas de forma a provocar
rejeição. Ainda assim, pesquisa de opinião é imprecisa e a opinião é
volátil.
Mas a diferença existe, é real e, provavelmente, de uma ordem de
magnitude que permite dizer que os parlamentares não consultaram seus
eleitores. Aqueles que lhes dão os votos necessários para atingir o
quociente eleitoral e ganharem uma cadeira na Câmara. Não foi um voto
apoiado na base, foi um voto apoiado em núcleos de interesses especiais.
Políticos tendem a apostar na memória curta do eleitor e na gratidão
durável dos financiadores. É uma indicação do peso desigual do poder
econômico e dos grupos organizados nas decisões, em comparação com a
opinião pública. A sociedade só consegue influenciar decisões quando
gera um movimento de massas, persistente, que força os representantes a
ouvir a voz dos cidadãos. A maioria silenciosa raramente influencia o
processo legislativo.