BRASÍLIA - A grande (e ótima) novidade anunciada durante as
minhas férias foi que o Brasil passou o Reino Unido e é agora a sexta
economia do mundo. Uau! Somos uma potência! Mas que potência é essa?
A infraestrutura é sofrível. Os "apaguinhos" são quase rotina, os portos
estão cheios de gargalos, as estradas são péssimas, ferrovias
praticamente inexistem.
Chegar de uma viagem internacional é um inferno no Galeão e em
Guarulhos, as grandes portas de entrada, e até mesmo em aeroportos
menores, como o de Natal, onde há três (isso mesmo: três) esteiras de
bagagem até que a ampliação seja concluída.
Quanto à educação: Será que o país tem boas escolas para a maioria e
profissionais de ponta para enfrentar os desafios do crescimento e da
competitividade em todos os setores? Há dúvidas.
E o país consegue ser a sexta economia mundial com um IDH ainda
vexaminoso. Quando você passeia pelo interior do Nordeste, onde as
coisas vêm melhorando, é verdade, assusta-se com os ainda extensos
bolsões de miséria atolados em dois ou três séculos atrás.
Povoados sem asfalto, um atrás do outro, com crianças barrigudinhas e
descalças correndo na poeira, entre mulheres de ar sofrido e pele
encarquilhada e homens trôpegos pela cachaça e pelo cansaço de uma vida
inteira de trabalho duro, debaixo de sol a pino e em regime de
semiescravidão.
Não consta que haja gente e cenários assim no Reino Unido e na França, o
próximo país a ser, bem antes do que se previa, ultrapassado pela
economia emergente do Brasil.
O que está em pauta não é (só) o ritmo da economia e o complexo
equilíbrio entre crescimento mais baixo e inflação debochada, mas
principalmente a qualidade do desenvolvimento. Há que se discutir por
que, para que e para quem o Brasil assume ares de potência.
Eliane Cantanhêde
Ótimo 2012!
Amazônia, meio ambiente, ecologia, biodiversidade, desenvolvimento sustentável, ciência e tecnologia, incubadoras e parques tecnológicos, política nacional e internacional - Amazonia, the environment, ecology, biodiversity, sustainable development, science and technology, incubators and technology parks, national and international policy
terça-feira, 3 de janeiro de 2012
quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
Educação. Impressão de que se chegou ao futuro sem sair do passado.
A pedagogia da marquetagem
Elio Gaspari
Brasília quer comprar 300 mil tablets, e o Cazaquistão, terra de Borat, 83 mil, mas NY comprou só 2.000
A compra de 300 mil tabuletas (equipamento também conhecido como
"tablet") para estudantes da rede de ensino público nacional poderá ser a
última encrenca da gestão do ministro Fernando Haddad, ou a primeira de
Aloizio Mercadante. O repórter Luciano Máximo informa que falta pouco
para que o governo federal ponha na rua o edital de licitação para essa
encomenda.Governos que pagam mal aos professores, que não têm programas sérios de capacitação dos mestres, onde as escolas estão caindo aos pedaços, descobriram que a compra de equipamentos eletrônicos é um bálsamo da pedagogia da marquetagem. Cria-se a impressão de que se chegou ao futuro sem sair do passado.
O governo de Pernambuco licitou a compra de 170 mil tabuletas, num investimento global de R$ 17 milhões. A Prefeitura do Rio anunciou em outubro que tem um projeto para distribuir outras 25 mil. A de São Paulo contratou o aluguel de 10 mil ao preço de R$ 139 milhões. Felizmente, o negócio foi abatido em voo.
A rede pública de Nova York, com 1,1 milhão de estudantes, investiu apenas US$ 1,3 milhão, numa experiência que colocou 2.000 iPads nas mãos de professores e de alunos de algumas escolas. Já a cidade mineira de Itabira (12 mil jovens na rede pública) comprou 3.000 laptops, num investimento de US$ 573 mil.
Na Índia, onde se fabricam tabuletas simples por US$ 35, existe um projeto piloto para 100 mil alunos num universo de 300 milhões de estudantes. Se tudo der certo, algum dia distribuirão 10 milhões de unidades. Na Coreia, o governo planeja colocar tabuletas nas mãos de todas as crianças do ensino fundamental. Lá, a garotada tem jornadas de estudo de 12 h diárias.
O projeto de Pindorama parece-se mais com o do Cazaquistão do companheiro Borat, onde se prevê a compra de 83 mil tabuletas até 2020.
Encomendas milionárias de computadores ou tabuletas para a rede pública são apenas compras milionárias, com tudo o que isso significa. Se a doutora Dilma quiser, pode pedir as avaliações técnicas que porventura existam do programa federal "Um Computador por Aluno".
Com quatro anos de existência, o UCA tem muitos padrinhos e fornecedores (150 mil máquinas entregues e 450 mil encomendadas por Estados e municípios). Nele, algumas coisas deram certo. Outras deram errado, ora por falta de treinamento dos professores, ora pela compra de equipamentos condenados à obsolescência.
Uma boa ideia não precisa desembocar em contratos megalomaníacos que terminam em escândalos. Se um cidadão que cuida do seu orçamento não sabe qual tabuleta deve comprar, o governo, que cuida da Bolsa da Viúva, deve ter a humildade de reconhecer que não se deve encomendar 300 mil tabuletas, atendendo a fabricantes que não conseguem produzir máquinas baratas como as indianas ou versáteis como as americanas, as japonesas e as coreanas.
Se esses equipamentos só desembarcarem em cidades e escolas onde houver banda larga e professores devidamente capacitados, tudo bem. Se o que se busca é propaganda, basta comprar vinte tabuletas, chamar a equipe de marqueteiros que faz filmes para as campanhas eleitorais e rodar o video. Consegue-se o efeito e economiza-se uma montanha de dinheiro.
O povo também opina
Economia
A despeito de sermos, talvez, a sexta economia mundial, no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), que, de fato, é o que interessa, estamos na constrangedora 84ª posição. Embora a carga tributária seja cada vez maior, mais de 11 milhões de brasileiros moram em favelas. Os governantes gastam muito mal e jogam o dinheiro de nossos impostos pela janela. Que país do mundo torra R$ 650 mil para que o mandatário usufrua 14 dias de férias?
Leão Machado Neto (São Paulo, SP)
O Brasil de 2012 e o Reino Unido de 1880
O PIBão e os costumes
É chato ser estraga-prazeres quando há uma notícia boa, mas jornalistas somos assim mesmo. O menor problema do Brasil é se sua economia passará a do Reino Unido, como a mídia britânica noticiou. Um defeito grave por aqui continua sendo a falta de valores civilizatórios -e nenhum sinal de melhora desse cenário no médio prazo.
Basta refletir sobre a situação acima descrita: apesar do "PIBão", há hoje menos pessoas jogando papel na rua do que havia nos anos 90?
Segundo o vaticínio do ministro da Fazenda, Guido Mantega, só daqui a 10 ou 20 anos o brasileiro terá o mesmo padrão de vida do europeu. E quanto tempo passará até as pessoas se tornarem mais educadas e civilizadas em público?
Na sua tradicional edição especial dupla de final de ano, a revista britânica "The Economist" traz uma reportagem longa sobre o Brasil. Título: "The servant problem". Em tradução livre, "o problema das empregadas". Trata da dificuldade atual da elite brasileira para encontrar uma funcionária que tire os pratos da mesa, lave a louça e as roupas.
"Na virada do século 21, o Brasil tem grandes similaridades com o Reino Unido de 1880", escreve a revista. Aqui, como lá há 130 anos, a elite reage e fica mal-humorada.
O Brasil, aponta a "Economist", tem mansões sem água quente na pia da cozinha, mas alguns paulistanos usam helicópteros e não possuem máquina de lavar louça.
Pelo slogan dilmista, "país rico é país sem pobreza". Rico o Brasil até já é. Faltam valores e bom costumes. E não apenas para quem é pobre.
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