Gigante Foxconn quer instalar
fábrica em região que tenha grande disponibilidade de água
A escassez de água
nas bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (Bacias PCJ) ameaça deixar a
região de Campinas fora da disputa pela instalação da taiwanesa Foxconn. O
Correio apurou que a gigante na produção de displays exige que o local de
instalação tenha investimento na área de logística e melhoria da
infraestrutura, como o acesso a um aeroporto internacional, uma área extensa
para instalação do parque fabril e grande capacidade energética e de água.
A água é um importante insumo da empresa, que a utiliza em resfriamento durante
o processo de produção. Esse é o grande limitador da região de Campinas,
afirmou uma fonte. Executivos da empresa percorreram a região recentemente e
apenas a oferta de água não se enquadrou nos requisitos da Foxconn. A situação
é crítica, porque para uma demanda total das cidades da bacia de 81 m3/s, a
disponibilidade hídrica total é de 65 m3/s para atender 61 municípios.
O presidente da Agência Paulista de Promoção de Investimentos e Competitividade
(Investe São Paulo), Luciano Almeida, disse ontem que aguarda para o final de
abril a definição do local onde a empresa vai instalar uma de suas unidades.
Ele reconhece que a demanda por água é um fator limitante de investimentos na
região de Campinas, mas diz que, no caso da Foxconn, não haverá pressão sobre a
demanda. Ele não confirmou, no entanto, se Campinas é uma das candidatas a
receber a fábrica.
Devido a cláusula de confidencialidade, que consta no protocolo de intenções
assinado com a empresa, a Investe SP não disponibiliza informações como local
de instalação, produção, datas, valores, número de empregos, entre outros, até
que as negociações sejam concretizadas.
O secretário de Desenvolvimento Econômico, José Afonso Bittencourt, disse que
as conversas com a Foxconn continuam, mas a empresa está fazendo exigências que
a cidade não poderá cumprir. Segundo o secretário, a taiwanesa quer que a
Prefeitura faça uma doação de terreno de um milhão de metros quadrados. “Isso
não tem condições, porque além de não termos uma área assim, não é política do
município doar terrenos para atrair investimentos”, afirmou. Ele reconhece que
a oferta de água é delicada na região, justamente por causa do intenso desenvolvimento
dos últimos anos, mas segundo ele, o que pesa no momento é o terreno.
Para o ambientalista José Osório Coelho, aumentar a oferta de água exigirá
grandes investimentos em busca de novos mananciais, redução de perdas,
ampliação da oferta de água de reúso, economias, proteção de nascentes. “Hoje a
bacia PCJ já está em situação complicada e as ações tem sido lentas. Basta ver
que hoje apenas 45% do esgoto produzido nessa bacia é tratado”, afirmou.
Seis estados disputam sediar o local escolhido pela empresa: São Paulo, Rio de
Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e Paraná - o local, em tese, precisa
ter um solo livre de oscilações e ter garantias de fornecimento de energia e
água pura. O presidente da Investe São Paulo disse que o projeto apresentado
pela Foxconn possui três fases. A primeira seria a produção da Apple, a
segunda, a unificação das fábricas que a empresa tem no Brasil em um só local
e, a terceira, a fabricação de telas no País. Ao todo, serão investidos US$ 12
bilhões da gigante asiática no Brasil, para produção de ítens como telas
sensíveis ao toque para aparelhos da Apple (iPad e iPhone) e outras marcas.
Minas Gerais é uma das principais candidatas a receber uma das unidades. O
governo mineiro elaborou um plano de benefícios, que contempla infraestrutura,
energia elétrica, água e o terreno e acertou que um terço do investimento da
Foxconn no Brasil ocorrerá em uma cidade mineira.
A participação da Foxconn no capital social da fábrica de telas planas para
iPad que vai se instalar em Minas Gerais será entre 25% e 30%. O investimento
nacional ocorrerá por meio do grupo EBX, de Eike Batista, de duas ou três
empresas de médio porte do setor de informática, e ainda pelo governo, via
BNDESPar. Desta forma, a Foxconn ficaria com uma parcela minoritária e
responsável pela gestão do empreendimento. O capital nacional dominaria o bloco
de controle da empresa.