quinta-feira, 3 de abril de 2014

Brasil tem reservas elevadas, mas posição macro complicada, diz IIF



WASHINGTON - A piora das condições financeiras globais encontra o Brasil com um balanço externo forte e reservas internacionais significativas, mas também com uma posição macroeconômica complicada, diz o Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês), em relatório divulgado nesta quinta-feira.
Segundo o IIF, a inflação elevada limitou a perspectiva de o país confiar na desvalorização do câmbio para absorver choques, levando a um aperto pró-cíclico da política monetária. 

Mesmo com o ciclo de aumento da taxa Selic, que ontem foi elevada de 10,75% para 11% ao ano, a inflação continua teimosamente alta, podendo subir mais nos próximos meses, devido aos riscos de escassez derivados de uma seca prolongada, diz o IIF. 

Para a instituição, o ciclo de aperto monetário deve terminar com a elevação feita ontem, devido à expectativa de que os aumentos já promovidos vão afetar a dinâmica da inflação com defasagem. “Nós acreditamos, porém, que o aperto monetário terá que ser retomado no quarto trimestre, levando a Selic para pelo menos 12,25% no fim de 2015”, afirma o IIF.

Ao comentar a política monetária nos países emergentes, o IIF coloca o Brasil entre os países que começaram o processo de elevação dos juros mais cedo, ao lado de Índia e Indonésia. Para a instituição, isso os ajudou a manter a creibilidade da política e estabilizar o câmbio, apesar das condições mais difíceis de financiamento para esses países.

Outras economias adiaram o processo, mas tiveram que aumentar os juros com força em janeiro, depois de fortes depreciações do câmbio, como a Turquia. As reservas brasileiras elevadas são um trunfo importante, por permitir que o país forneça liquidez em dólar, caso seja necessário. 

Segundo a instituição, o mix de políticas desequilibrado e as reformas limitadas têm pesado no cres cimento brasileiro. Ao divulgar novas previsões para a economia global, o IIF elevou ligeiramente as projeções para a expan são do Brasil. Em 2014, a previsão subiu de 1,4% para 1,6% e para 2015, de 2,1% para 2,2%.




Por Sergio Lamucci | Valor

domingo, 30 de março de 2014

A nota da campanha


Na manhã de terça-feira, um dia depois do rebaixamento da dívida brasileira, o diretor de rating soberano da Standard & Poor's, Sebastian Briozzo, era um dos mais aguardados palestrantes de um evento em São Paulo que também tinha entre suas atrações o governador de Pernambuco, Eduardo Campos.
Ao responder à mediadora sobre o impacto da sucessão nos prognósticos fiscais do país, disse: "Faz tempo que não só no Brasil como no resto da America Latina a cor da bandeira deixou de fazer a diferença. Governos de direita e de esquerda fazem políticas pragmáticas e prudentes. O importante é a agenda e a equipe que vai trabalhar com as agendas".




ma tradução possível do bom português do diretor argentino da S&P é que a política no Brasil e na América Latina não preocupa a agência. Quem faz a política, na verdade, são as equipes econômicas e suas agendas. O rebaixamento de BBB para BBB-, portanto, seria um aviso para a atual presidente não se desgarrar do caminho do meio, onde inexistem bandeiras.
Três anos atrás, ao baixar a nota da dívida americana, a S&P pode ter sido acusada de tudo pelo governo Obama, menos de ter ignorado as bandeiras da política local. O país vivia o impasse entre democratas e republicanos em torno do teto da dívida pública que travou os gastos do governo.
A S&P justificou o rebaixamento de AAA para AAA-: "A política temerária dos últimos meses evidencia que a governança e a administração pública nos EUA estão se tornando cada vez mais instáveis, menos efetivas e menos previsíveis. (...) As diferenças entre os partidos políticos provaram-se extraordinariamente difíceis de ser estreitadas".
Como se trata de um país que imprime a moeda mundial, restou à S&P invadir a política para explicitar suas dúvidas sobre a capacidade de o governo americano pagar sua dívida.
A nacionalidade americana da empresa talvez explique a falta de cerimônia com que a agência adentrou terreno minado. As reações foram muito mais enervadas do que aquelas que se observam por aqui, mas a maior delas veio dois anos depois num prato frio. O Departamento de Justiça levou à frente uma ação de US$ 5 bilhões contra a S&P pelas barbeiragens de seus ratings na crise de 2008. A agência queixou-se de retaliação.
Na queda de braço entre a S&P e o governo americano ficou explícita a inconformidade da agência com um modelo político em que Congresso e partidos têm peso na definição dos rumos do país.
No Brasil, o dirigente da agência até chegou a reconhecer os limites do mercado - "O Brasil tem uma democracia consolidada, pluralista e mais avançada que a de outros emergentes e, por isso, é mais difícil construir consensos".
Onde Briozzo se traiu, e seu domínio do português não autoriza um lapso idiomático, foi na constatação de que as equipes econômicas valem mais que as bandeiras políticas.
O maior responsável pela convicção da S&P de que a esquerda no Brasil pode ser pragmática - ou seja, fazer o que a agência acha que precisa ser feito - foi o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Seis anos atrás, Lula comemorou o grau de investimento a que chegou o Brasil sob seu governo.
A mesma agência que no passado serviu para o PT se exibir como o partido capaz de acender vela para deus e o diabo sem descuidar das criancinhas, agora é contestada como "inconsistente" e "contraditória" pelo governo do mesmo partido.
O rebaixamento chega num momento em que os candidatos - a governista e os de oposição - fogem despudoramente do debate que já precifica todo o mercado: quanto, como e onde vai se dar o corte de gastos.
Cinquenta anos atrás o país iniciava sua mais longa ditadura destruindo a chance de enfrentar a ordem financeira mundial que se modelou a partir da Guerra Fria com uma democracia mais pluralista e avançada do que hoje avalia Briozzo. Foi o pacto social da Constituinte de 1988 que pôs fim à ditadura. E é precisamente esse pacto, e os gastos nele envolvidos, que a sucessão, mais do que a S&P, põe em jogo.
Desaprovação
Intenção de voto vale pouco a esta altura do campeonato. Importa mais a popularidade de governo. Daí que os números do CNI/Ibope como aumento na reprovação à presidente acendam a luz amarela para Dilma.
A reeleição é recente para gerar um histórico confiável, mas tanto FH quanto Lula chegaram às urnas de sua reeleição com aprovação mais próxima a 60%, ainda que, em março tivessem índices parecidos com os de Dilma hoje (ver gráfico).
Para quem gosta de olhar a política brasileira com a bússola voltada para o Norte, os EUA têm 12 presidentes candidatos à reeleição e há quem ache a amostra pequena para que se tire conclusões. Lá aprovação de 60% é probabilidade de 90% de reeleição. Quando a aprovação cai para 40% também despenca para esse patamar a probabilidade de reeleição.
O cientista político Alberto Almeida, do instituto Análise, tabulou um outro dado, a soma de ótimo e bom de 47 governadores candidatos à reeleição desde 1998. Aqueles que tinham a soma superior a 60% foram todos reeleitos. A totalidade dos que tinham a mesma soma inferior a 34% foi derrotada. Dilma hoje tem 36%.
Dos quatro itens mais desaprovados pela população, três estão na linha de tiro do rebaixamento: juros, inflação e impostos. Se mexer para agradar o mercado, pode azedar o eleitor. Faltam Copa, horário
eleitoral e seis meses para a eleição, mas vai ser difícil para Dilma escapar dessa calibragem.

Maria Cristina Fernandes é editora de Política. Escreve às sextas-feiras
E-mail: mcristina.fernandes@valor.com.br

Maria Cristina Fernandes é editora de Política e colunista do Valor desde a fundação do jornal em maio de 2000. Integrou a equipe que fundou a revista "Época", publicação da qual foi repórter especial. Foi editora de Política da "Gazeta Mercantil", subeditora da revista "Veja" e repórter do "Jornal do Comércio".
É formada em jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco e em História pela Universidade Federal de Pernambuco. É mestre em Política Comparada pela Universidade de Paris I e em Política Latino-Americana pela Universidade de Londres.

sábado, 29 de março de 2014

Tombini: Brasil está comprovadamente resistente a choques externos


SAUÍPE - A volatilidade “é do jogo e não deve ser confundida com vulnerabilidade”, observou o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini. Segundo ele, os bancos centrais devem estar atentos e os governos devem trabalhar em conjunto no sentido de adotar reformas e criar estímulos aos investimentos, principalmente, privados.

Em discurso do Fórum Econômico da América Latina, realizado pelo Institute of International Finance (IIF) na Costa do Sauípe, na Bahia, Tombini fez questão de mostrar aos participantes que o Brasil “comprovadamente” está mais resistente aos choques externos.

Além disso, ressaltou que a normalização das condições monetárias gera um realinhamento dos ativos financeiros, como por exemplo, o câmbio. “O ajuste não deve ser confundido com vulnerabilidade”, afirmou. “O Brasil é um país robusto e resistente a choque externos e tem sistema financeiro sólido”, acrescentou.

Para mostrar que a economia brasileira é sólida, Tombini destacou as elevadas reservas internacionais do país, que uma parcela pequena da dívida pública (17%) está nas mãos de não residentes e que o sistema financeiro está capitalizado.

O presidente do BC disse ainda que o Brasil tem respondido aos efeitos da crise e vai continuar respondendo de forma clássica, com austeridade na política macroeconômica e utilização de “colchão” para suavizar os preços dos ativos.

Tombini afirmou ainda que grande parte das regras de Basileia 3 estão definidas e muitos países, como é o caso do Brasil, já adotam as medidas. “A agenda regulatória do sistema financeiro global é simples, mas tem pendências a serem resolvidas.”
Por Edna Simão e Luciano Máximo | Valor